Obediência – Roseli Sayão
Recentemente, em uma reunião de pais, uma mãe fez uma intervenção bem-humorada, mas igualmente desanimada. Seus dois filhos -um de cinco anos e o outro de nove- não atendiam às suas ordens de jeito nenhum. Ela contou que precisava repetir a mesma coisa muitas vezes, subir o tom de voz, às vezes até gritar, parar de fazer o que estava fazendo, colocá-los de castigo e discutir com eles até que eles fizessem o que precisavam. E eles ainda respondiam de modo pouco respeitoso ou fugiam dela.
Para essa mãe, fazer os filhos obedecerem era uma mágica que ela não conhecia e, por isso, assistia ao programa “Super Nanny” para tentar apreender o segredo da protagonista. Mas, até então, não tivera êxito.
Essa mãe representou um bom número de pessoas que agem como ela com os filhos e sentem a mesma impotência perante a falta de resultados. Por isso, vamos conversar sobre obediência.
Os pais, em geral, colocam na criança a responsabilidade pela desobediência, mas é quase sempre neles que está a questão. Para ilustrar essa tese, uma história que um pai me contou.
Ele instituíra com sua filha de seis anos um ritual para dormir que terminava com uma história. O problema é que a menina nunca ficava satisfeita com uma só história: pedia outra e mais outra. O pai atendia aos pedidos da garota até o limite de perder a paciência e, então, dizia, bravo: “Agora chega!”. Só aí a filha se aquietava e se despedia para dormir.
Aí está: os filhos logo aprendem quando precisam obedecer aos pais e quando há espaço para jogar. Quando uma criança ouve sua mãe pedir que é hora do banho, ela distingue pelo tom de voz, pelas palavras, pelo olhar ou por outro sinal qualquer se é uma ordem ou apenas um pedido. Ela sabe que um pedido pode ser negado e uma ordem deve ser obedecida.
Os pais desenvolvem com cada um dos filhos as pistas para a obediência, já que as crianças são diferentes umas das outras e se relacionam diferentemente com seus pais também. E elas aprendem rapidamente a distinguir o modo como cada um de seus pais dá as pistas.
Mas, para que a criança aprenda a entender e a acatar a pista, é preciso que seus pais lhe ensinem desde cedo o princípio da obediência -e, para tanto, é preciso mandar. Sim, senhores pais: os filhos não obedecerão nunca se os pais não mandarem, e hoje muitos pais querem que seus filhos obedeçam sem terem de impor. Impossível.
Aprender a obedecer é pura prática, por isso é desde cedo que os pais precisam dar oportunidades para que seus filhos aprendam. Nos primeiros anos de vida, a tarefa é simples, mas árdua: os pais precisam dar a ordem e fazer com que os filhos a atendam. Isso significa saber a hora de agir. Ao dizer ao filho “não faça isso”, por exemplo, é preciso impedir que a criança faça porque é dessa maneira que ela aprenderá o sentido do impedimento e da obediência.
Criança que sabe a quem e quando obedecer é mais tranquila, estabelece boa convivência e, por isso, cresce melhor, mas depende totalmente dos pais para esse aprendizado.