Adoção

Adoção? – www.gaasp.org.br

Para tentar falar um pouquinho sobre esse assunto, selecionamos o texto de uma psicóloga que em uma situação particular o escreveu.
Seu filho adotivo quando se encontrava na pré-escola lhe pediu que fosse até sua escola para explicar aos seus amiguinhos o que era filho do coração…
Como fazê-lo?
Pensou e resolveu fazer uma historinha, e esta fez tanto sucesso que acabou sendo publicada em um de seus livros.
Acompanhe-nos e se emocione nesta leitura.

A Cegonha sem Vergonha

Quando acordei estava a maior agitação no céu. Todas as cegonhas estavam com medo e a Cegonha-chefe, vermelha de raiva e indignação, por causa de uma cegonha que, como ele dizia, distraída e sem vergonha, tinha acontecido de novo.
– Foi a Cecy, respondeu Celinha, deixou cair da fraldinha mais dois bebezinhos fora de hora e eles caíram na rua.
– Meu Deus! E agora, Celinha, o que vai acontecer?
Celinha, triste, começou a me dar as alternativas:
– Eles podem crescer na rua, sem ninguém que os auxilie, criados como outros meninos como eles, sem estudar, sem comer direito, sem tomar remédio quando ficarem doentes, sentindo frio e sentindo quente. Eles podem ir parar na instituição, onde tem comida, banho, remédio e escola. Lá eles nunca pedem esmola, mas crescem sem coração, sem paizinho ou mãezinha que lhes dê carinho ou atenção.
Quando eu já estava quase sentindo raiva e tristeza também, Celinha deu uma outra alternativa que até então eu não conhecia, fez uma pausa e disse:
– Ou podem, com muita sorte, ser acolhidos pela adoção. Por isso a Cegonha-chefe está tão brava! Cecy criou um problemão! Mas me deixa voar daqui que tenho muito trabalho a fazer. Tem ainda muito neném pra nascer.
– Espere aí Celinha me explica direitinho essa história de adoção, como é que isso acontece?
– Você não sabe? Eu não acredito!
E lá atrás se ouviu um grito, era Cecy chorando pelo que tinha feito por distração, chorava e falava:
– Agora só resta a adoção! Agora só resta a adoção!
Celinha pôs-se a contar-me:
– Olha, nem todo os papais e mamães conseguem entrar em contato conosco quando ainda estamos com os bebês aqui em cima. Mas me deixa ir trabalhar que aquele povo da Terra é muito complicado e exigente, nunca tem tempo, eles estão sempre correndo como a gente.
Não! Falei mais alto, agora você só sai daqui quando me explicar direitinho essa história da adoção.
– Está bem, você não vai me largar mesmo… A adoção é o processo pelo qual mães e pais começam a amar os filhos muito, muito tempo antes que eles apareçam, muito mais que nove meses, às vezes anos até, às vezes os encontram grandinhos, às vezes coloridinhos, assim um é lourinho e o outro não é.
Na adoção sempre há carinho, aconchego e compreensão. Sempre há casinha quente abraço forte, aperto de mão.
Há zangas também, mas quando se fica doente, nunca dói o coração e o remédio sempre cura, o mal tem sempre solução.
Na adoção crianças vão à escola aprendem a ler e escrever pra deixar por escrito sua vontade de viver, nesse mundo colorido. Cheio de ternura e prazer.
Quando um nenenzinho cai na rua há adoção, acontece um encontro de almas, todos são da família e como é linda esta união.
Na adoção, os pais cuidam de seus filhos com tanto desvelo que, às vezes, ouvimos aliviadas, seus suspiros de gratidão e amor aqui em cima.
– Então Celinha, porque tanto alarido pela distração de Cecy?
– A confusão é pelas criancinhas que não conseguem a adoção que caem na rua sozinhas ou nas redes da instituição. Mas a Cegonha-chefe desta vez parece que vai dar um jeitinho. Cecy está muito arrependida acho que terá uma chance. Olha lá, estão me chamando. Acho que querem minha ajuda neste assunto. Fique aqui esperando que vou lá ver o que elas querem e já volto.
Enquanto esperava, torcia pra que aquelas criancinhas encontrassem seus pais.
Celinha voltou agitada.
– Vamos a uma escalada procurar os irmãozinhos e deixar numa casinha. Vou ajudar a Cecy pra que ela carregue só uma fraldinha. Vem com a gente, segura na minha perna e vem com a gente voar.
Procuramos, procuramos. Como foi difícil encontrar! Mas achamos um menino e uma menina na rua a berrar: – Buá! Buá! Buá! Com a minha ajuda pegamos depressa os dois e voltamos a voar e vimos bem de longe uma casinha com muita luz a brilhar. Não era uma casinha qualquer, Celinha então me disse que aquele brilho ali era amor.
– Ali tem alguém pensando em adoção, o brilho sai quando abrem o coração.
– Então vamos depressa voar nessa direção!
E quanto mais nos aproximamos, mais eu reconhecia cada florzinha ou pedrinha, tudo tinha se lugar. Quando paramos, outro susto levei: era minha casinha! A que sempre desejei! Trim! Fez o relógio e acordei assustada, – Mas que foi? Ainda era madrugada, levantei bem de mansinho e fui no quartinho olhar, meus filhos que dormiam como anjinhos que acabaram de chegar. Lembrei-me do lindo sonho e tive muito a agradecer. Depois de muitos “muito obrigados”, pedi a Jesus que jamais se apagasse aquela luz e que, em se tratando de cegonha distraída ou com vergonha, mesmo aqui, a que nunca conheci, que no céu sempre houvesse, pelo menos uma Cecy.

Texto de MÁRCIA LOPES DE CARVALHO, Psicóloga, Terapeuta de família, Presidente do Aconchego – Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de Barra Mansa, autora dos livros “A história bonitinha da Maria Estrelinha” e “Para fazer uma adoção vai precisar de muito açúcar”, é casada com Francisco Newton Santos de Carvalho, Professor Orientador de Telecurso e são pais de Martin Lopes de Carvalho e Ariela Lopes. Residem em Barra Mansa – RJ.
FONTE: Livro: IV – LAÇOS DE TERNURA: HISTÓRIAS DE ADOÇÃO

Sugestão para leitura:

101 Perguntas e Respostas sobre Adoção – 1º Volume
Série TODA CRIANÇA EM FAMÍLIA
Dra Eunice Granato – GAADI – Itapetininga/SP
Fernando Freire – ABTH – São Paulo/SP
Gabriela Schreiner – CeCIF – São Paulo/SP
Luis Schettini Filho – Recife/PE
Márcia Lópes de Carvalho – Barra Mansa/RJ
Dra. Marlizete Maldonado Vargas – Aracaju/SE
CECIF
Os Caminhos do Coração
Maria Tereza Maldonado
Ed. Saraiva

“A adoção é apenas outra forma de ser pai e por diferente têm apenas seu início, que a torna rica através da decisão de assumir uma criança não gerada por si, como filho para toda a vida! Mas a adoção não termina quando da chegada da criança. É ali que ela começa. Os pais adotivos que freqüentam Grupos de Apoio à Adoção, encontram apoio e podem fornecer apoio na complexa arte de educar um filho. Participe e continue a participar, venha formar uma grande família em respeito e solidariedade para com a infância brasileira!.”
Gabriela Schreiner
Diretora Executiva – CeCIF